28 de setembro de 2010

Quem pensa nas raízes

Se eu tivesse um diário, ele choraria; escorreria lágrimas de todos os dias.
Com meu choro delegado às páginas, eu silenciaria por dentro e por fora, chegando enfim à solidão.
Por hora ela se mostra como musa inalcansável, como desejo furtivo e impróprio.
Minhas páginas acolheriam minhas lágrimas fraternalmente.
Minhas páginas teriam o melhor de mim, pra eu me ver, então, nelas.
O mundo tem o resto, o resto de um corpo que ainda não é inteiro.
Minhas lágrimas se perdem, vãs.
Vou achá-las não no concreto, mas no vazio.
Somos mais vazios que cheios. Nunca nos tocaremos.
A única experiência tangível é o vazio.
Vazio.
Ser cheio de si é não entender o vazio, é não colocar pra fora as lágrimas, é não ter páginas, é nunca poder se ver.
Eu escrevo em pessoas, as amo.
Quero ser para elas também páginas, um espaço vazio, um depósito de lágrimas.
Felicidade é ser vazio de si.

24 de agosto de 2010

As olheiras respiravam um gesto que contrastava com seus olhos.
O café a aguardava na mesa. Ela olhava pela janela.
Quando foi que tudo comçou? Na dúvida, na viagem, no olhar?
Sua ingenuidade a havia abandonado e em suas mãos pulsava uma vontade diferente.
O café não as queimava nem a olheira as segurava.
Ela entendia que o sentido da vida dela estava ali, disforme, pairando em sua frente.
Que forma tomaria? Suas mãos se moviam tímidas.
Mais um gole. Mais um desvio para a janela.
A xícara se quebra. As mãos se movem decididas, e ali começa sua vida.

13 de julho de 2010

Ser

Terreno claro
Ondas lisas
Limpo céu
Três tempos
Compasso
Disrítmico
Do olhar
Que abrigo
A ausência
Alimento
Para ter
Cresçer
Ser